Fim de Ano. Ano Novo. Quantas vidas vivemos dentro de uma vida?
A vida é como uma ampulheta que nunca vira. A areia corre, grão por grão, sem que possamos controlar a velocidade ou prever o momento em que o último grão cairá. Quando acabará a areia? Ninguém sabe. O que sabemos é que, a cada instante, estamos construindo uma história, uma vida dentro da nossa própria vida.
Enquanto o calendário chega ao fim de mais um ciclo, somos convidados a parar, olhar para trás e refletir sobre tudo o que vivemos. Quantas portas se fecharam ao longo deste ano? Quantas novas se abriram? Quais amores vieram para ficar, e quais passaram como um vento de verão? O fim de ano carrega essa carga dual: um misto de nostalgia e esperança, de balanço e recomeço.
Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias e dar-lhes o nome de ano, como disse o poeta, foi um indivíduo genial. “Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão.” Afinal, o que seria de nós sem esse artifício para reiniciar? Sem o alento de que, ao virar a página, podemos nos renovar? A cada ano que termina, abraçamos a ilusão de que temos um novo começo, mas é na ilusão que encontramos forças para seguir em frente.
Você já parou para pensar quantas vidas existem dentro da sua? Cada ciclo é uma história, um capítulo que nos molda e nos transforma. Talvez você tenha sido muitas coisas: o jovem sonhador que queria conquistar o mundo, o adulto que precisou lidar com decepções e responsabilidades, ou o amigo que um dia se afastou sem perceber. Cada versão de você deixou um pedaço em algum lugar.
Houve amizades que vieram e se foram, deixando saudade ou aprendizado. Amores que transformaram a vida em tempestade ou calmaria. Momentos de risadas que pareceram eternos, mas que hoje são apenas lembranças doces. Há também as lágrimas, aquelas que arderam na pele e marcaram o coração. Quantas vidas temos dentro de uma só vida? Talvez infinitas. Cada porta que se fecha abre espaço para uma nova jornada, e é nisso que reside a beleza do viver.
A nostalgia de um ciclo que termina
Há algo quase mágico no fim do ano. As luzes piscando, o cheiro de comida compartilhada, o encontro com aqueles que amamos – tudo parece conspirar para que olhemos para trás com um olhar diferente. Mesmo os momentos mais difíceis ganham um brilho especial quando vistos através da lente da saudade.
No entanto, a nostalgia também traz um peso. Ela nos faz questionar: vivemos tudo o que poderíamos ter vivido? Aproveitamos cada segundo como deveríamos? Quantas vezes deixamos o tempo escapar pelas mãos enquanto buscávamos algo que não era essencial?
Mas não se culpe. A vida não é uma linha reta, nem sempre sabemos o que realmente importa. O balanço do ano é uma oportunidade de aprender e de fazer diferente no próximo ciclo.
A esperança renasce
No último dia do ano, o mundo inteiro parece pausar. O ponteiro do relógio caminha lentamente até a meia-noite, e o coração acelera. É um momento simbólico, mas cheio de significado. A ampulheta não vira, mas nos damos a ilusão de que podemos recomeçar. E talvez seja essa ilusão que nos mantém vivos. A esperança, mesmo industrializada, é a chama que nos empurra para frente.
O poeta estava certo: somos movidos pela esperança. E é ela que nos leva a abraçar quem amamos, a planejar novos sonhos e a buscar ser melhores. Não importa quantas vezes tenhamos falhado, o importante é que ainda estamos aqui, prontos para tentar de novo.
Um convite ao agora
Então, neste fim de ano, deixe a reflexão guiar você. Pense em quantas portas você fechou e quantas novas surgiram. Lembre-se das mãos que você segurou e daquelas que você soltou. E, acima de tudo, aproveite o agora.
A vida é efêmera, é verdade, mas é exatamente por isso que ela é preciosa. O que você está vivendo hoje será a saudade de amanhã. Então, segure as mãos que ainda estão aqui. Ouça as histórias repetidas. Deixe o café esfriar enquanto aproveita a presença de quem ama.
Porque, no fim, a areia vai acabar. Mas as memórias que você criar – essas serão para sempre.
Feliz fim de ano. Feliz novo ciclo.