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Uso de lodo de esgoto reduz severidade de Fusarium em bananeiras

Por Cristina Tordin – Embrapa Meio Ambiente 

O uso de resíduos orgânicos em culturas agrícolas pode contribuir para o manejo de doenças de plantas e melhorar a fertilidade do solo. Cientistas da Embrapa Meio Ambiente (SP) observaram que a incidência da murcha de Fusarium, a mais importante doença que acomete bananeiras (ver quadro), foi menos severa após a aplicação no solo do lodo de esgoto compostado.

Foto: Miguel Dita

“A redução do índice de doença variou de 9% a 67% com a aplicação de lodo de esgoto nas concentrações de 1% a 5% em relação ao grupo controle. Assim, o nível de controle vai depender da quantidade aplicada”, revela o pesquisador da Embrapa Wagner Bettiol frisando que essa prática também aumentou o crescimento das plantas.

Ele explica que a incorporação de resíduos orgânicos aumenta as atividades microbianas do solo, que o tornam inóspito para os patógenos, isso também altera suas características químicas e físicas, fornecendo macro e micronutrientes às plantas. Por isso, a prática é uma importante ferramenta de manejo para a supressão da murcha de Fusarium na banana. “A eficiência no controle de doenças depende das características do resíduo, quantidade aplicada, características do solo, época de incorporação e do patossistema”, pondera o cientista.

A maior ameaça da bananicultura

A principal doença da bananeira, antes chamada de Mal-do-Panamá, é causada pelo fungo Fusarium oxysporum f. sp. cubense e está disseminada em todas as regiões produtoras de banana do mundo. O fungo pode sobreviver no solo por mais de 20 anos ou ainda em hospedeiros intermediários. No Brasil, diversas variedades tradicionais, como a banana maçã, são susceptíveis a esta doença.

As principais formas de disseminação são o contato das raízes de plantas sadias com outras doentes, uso de material de plantio infectado e transporte de solo contaminado. O fungo também é disseminado por água de irrigação, de drenagem e de inundação, e também pelo homem, por animais ou pela movimentação de solo.

Os principais sintomas da doença são:

  • Rachadura no pseudocaule e quebra de folhas (aspecto de guarda-chuva fechado)
  • Manchas vermelhas indicando a presença do fungo no interior do pseudocaule
  • Murcha e amarelecimento foliar.

São conhecidas quatro raças do fungo, a raça 4 tropical (R4T) é considerada a mais severa e ainda não foi registrada no Brasil.

Foi constatado também que o comportamento dos resíduos não foi uniforme sobre a doença e desenvolvimento da planta, nem sobre as características biológicas, físicas e químicas do solo. Para cada resíduo e concentração utilizados, a resposta foi distinta indicando que o comportamento de cada um deve ser analisado individualmente e com o maior número possível de variáveis para decifrar os seus efeitos no desenvolvimento das plantas e na indução da supressividade a patógenos habitantes do solo.

A pesquisa envolveu a avaliação dos efeitos bióticos e abióticos sobre a severidade da murcha após a incorporação no solo de lodo de esgoto compostado, biocarvão, casca de camarão e conchas de mariscos. Dos quatro resíduos testados, o lodo de esgoto compostado, incorporado ao solo nas concentrações de 4% e 5%, foi o que proporcionou os melhores resultados em relação à supressão da murcha de Fusarium da bananeira e ao desenvolvimento das plantas.

Lodo enriquecido pode ser mais eficaz

“O uso de resíduos orgânicos abre uma avenida de opções no manejo de doenças causadas por patógenos do solo. Existe a possibilidade de enriquecer esse composto com microrganismos sabidamente antagonistas ao Fusarium, como o fungo Trichoderma, principal agente de biocontrole de doenças de plantas”, informa o pesquisador da Embrapa Mandioca e Fruticultura, Miguel Dita que enfatiza a importância dessas pesquisas diante da ameaça da entrada no País da raça 4 tropical do Fusarium. Mais agressiva, essa raça é considerada a maior ameaça da bananicultura mundial e é capaz de acometer mais de 80% das bananas e plátanos cultivadas hoje no mundo, incluindo a Cavendish, subgrupo resistente a outras raças do Fusarium.

O lodo de esgoto

O lodo de esgoto da Estação de Tratamento de Jundiaí (SP), utilizado no estudo, é obtido por meio do tratamento em lagoas aeradas, com posterior decantação e compostagem do logo gerado por longo período.

É um material rico em matéria orgânica e nutrientes e por isso apresenta um grande potencial de utilização na agricultura como fertilizante orgânico. Com o objetivo de aproveitar isso e ao mesmo tempo eliminar os riscos ambientais de sua utilização, a Companhia de Saneamento de Jundiaí implantou um sistema de compostagem termofílica do lodo de esgoto, processo pelo qual ele é misturado a podas urbanas picadas, bagaço de cana-de-açúcar, cascas de eucalipto, entre outros resíduos orgânicos, submetidos ao revolvimento mecânico e oxidação promovida por uma intensa atividade de microrganismos. Neste processo, devido a ocorrência de temperaturas acima de 55ºC por mais de 30 dias, todo o material é higienizado, eliminando organismos causadores de doenças aos homens e animais, dando origem ao composto orgânico de lodo de esgoto.

Um monitoramento constante das indústrias garante baixos teores de metais pesados, permitindo um uso seguro do composto, que também é aditivado com calcário com objetivo de diminuir as perdas de amônia do processo, ajudando a evitar odores e também atração de vetores, além de enriquecer o material com cálcio e enxofre, dois nutrientes importantes para plantas.

O lodo devidamente tratado passa a ser denominado de fertilizante orgânico composto classe D, registrado no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) sob o no SP-80610 10000-7, como produto de uso seguro na agricultura.

O fertilizante orgânico é fornecido para paisagistas e produtores de citros, eucalipto, cana-de-açúcar, flores, café, frutíferas, árvores, flores e gramados. O uso deste fertilizante é vetado pelo Mapa em hortaliças, pastagens e capineiras, raízes e tubérculos.

Gazeta 369

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