A Ditadura Silenciosa: Quando a Liberdade de Expressão é Sufocada
A liberdade de expressão não é apenas um direito fundamental; ela é a espinha dorsal de qualquer sociedade que se pretenda democrática. No entanto, ao longo da história, sempre houve aqueles que tentaram relativizar essa liberdade, muitas vezes em nome da ordem, do progresso ou do bem comum. O perigo disso reside no fato de que a supressão do direito à palavra não acontece de uma vez, mas de maneira lenta e quase imperceptível. Quando nos damos conta, já não podemos mais dizer aquilo que realmente pensamos.
A censura raramente se apresenta como um ataque direto à liberdade. Ditaduras modernas aprenderam que o método da força bruta é desnecessário quando se pode controlar a opinião pública de maneira mais sutil. O filósofo Olavo de Carvalho, um dos mais contundentes críticos desse fenômeno, alertava que o cerceamento da liberdade de expressão começa com a imposição de tabus culturais e sociais. Para ele, antes mesmo que leis sejam criadas para restringir o pensamento, a própria sociedade já foi condicionada a evitar determinados temas, seja por medo da rejeição ou por receio de represálias.
Esse fenômeno pode ser observado quando opiniões legítimas são rotuladas de “perigosas” ou “antiéticas” apenas porque contrariam a narrativa dominante. John Stuart Mill, em sua obra Sobre a Liberdade, argumentava que até mesmo as ideias que consideramos erradas devem ter espaço para serem expressas, pois o debate constante é o que permite à verdade emergir. Quando apenas um discurso é permitido, perde-se a possibilidade de refutação e aprimoramento das ideias.
Além disso, filósofos como Alexis de Tocqueville já alertavam que a tirania da maioria pode ser tão opressiva quanto a tirania de um ditador. Em seu clássico Democracia na América, ele descreve como, em regimes democráticos, a liberdade de expressão pode ser restringida não necessariamente pelo Estado, mas pelo próprio tecido social. Quando a população se torna vigilante das opiniões alheias, qualquer um que se desvie da norma estabelecida é isolado e silenciado. A diferença entre essa repressão e a censura estatal é que, na primeira, as correntes invisíveis da opinião pública fazem o trabalho que, em regimes totalitários, caberia à polícia política.
Olavo de Carvalho também denunciava o papel dos meios de comunicação e da academia na construção dessa ditadura silenciosa. Segundo ele, o controle do discurso não ocorre apenas por meio de censura explícita, mas por uma guerra cultural que transforma determinadas ideias em inaceitáveis antes mesmo que sejam discutidas. Isso gera um efeito perverso: intelectuais, jornalistas e cidadãos comuns passam a se autocensurar, evitando tocar em determinados assuntos para não serem rotulados negativamente.
O filósofo alemão Friedrich Nietzsche já dizia que “toda convicção é uma prisão”. Quando a sociedade se fecha dentro de uma única narrativa e considera qualquer contestação como heresia, o pensamento crítico desaparece. A diversidade de ideias deixa de ser um valor, e a democracia passa a ser apenas um rótulo sem substância.
O grande perigo da ditadura silenciosa é que ela não se impõe por tanques ou por fuzis, mas pelo medo e pela conformidade. Quando se chega ao ponto em que um indivíduo hesita antes de expressar sua opinião, já não é mais necessário um regime ditatorial formal: a opressão já está instaurada. E quando a liberdade de expressão é cerceada, todas as outras liberdades passam a ser mera concessão do poder.
Olavo de Carvalho dizia que a luta pela liberdade de expressão não é apenas uma questão política, mas espiritual. Para ele, um povo que aceita ser silenciado perde não apenas sua voz, mas sua própria identidade. A única forma de resistir a esse processo é reafirmar, incansavelmente, o direito ao debate aberto e irrestrito. Se permitirmos que nos calem, ainda que sob os mais nobres pretextos, estaremos cavando a cova da própria democracia.
Se a liberdade de expressão não for defendida com unhas e dentes, um dia acordaremos e perceberemos que já não temos mais o direito de pensar por nós mesmos. E então será tarde demais.