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O que se sabe sobre os objetos voadores derrubados pelos EUA

Por BBC News Brasil

A derrubada pelos Estados Unidos de quatro objetos voadores não identificados (óvnis) que sobrevoavam a América do Norte nos últimos dias levantou preocupações de segurança e acirrou as já tensas relações entre os governos americano e chinês.

No domingo (12), os EUA anunciaram que derrubaram o quarto objeto perto do Lago Huron, na fronteira com o Canadá. A ordem veio do presidente americano, Joe Biden.

Navios e mergulhadores dos EUA ainda estão procurando por destroços de um balão abatido na costa da Carolina do Sul

CRÉDITO,GETTY IMAGES: Navios e mergulhadores dos EUA ainda estão à procura de destroços de um balão abatido na costa da Carolina do Sul

Por meio de um comunicado, o Pentágono, sede do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, informou que havia uma preocupação de que o objeto, voando a uma altitude de 6,1 mil metros, interferisse no tráfego aéreo comercial.

O artefato foi detectado pela primeira vez no Estado americano de Montana no sábado, acrescentou o órgão.

O general Glen VanHerck, chefe do Comando de Defesa Aeroespacial, descreveu o objeto como não tripulado, de forma octogonal, e não como uma ameaça militar. Ele foi abatido por um caça F-16 às 14h42, horário local.

“O que estamos vendo são objetos muito, muito pequenos que produzem uma seção transversal de radar muito, muito baixa,” disse ele.

A especulação sobre o que os objetos podem ser se intensificou nos últimos dias.

Em um pronunciamento nesta segunda, o porta-voz de Segurança da Casa Branca John Kirby afirmou que os EUA concluíram que a China tem um programa militar de balões de altitude para coleta de dados de inteligência – ou seja, um programa de balões espiões.

Kirby afirmou que o primeiro objeto é um balão chinês, mas que ainda faltam informações sobre os outros três. Segundo ele, alguns deles caíram no mar ainda não foram recuperados – e só então o governo terá certeza sobre sua finalidade.

Tanto os Estados Unidos quanto o Canadá continuam trabalhando para recuperar os destroços, mas a busca no Alasca foi dificultada pelas condições no Ártico.

Ele também disse que, embora os três objetos derrubados no fim de semana não sejam uma ameaça militar, eles oferecem um alto risco para a aviação civil por poderem causar acidentes.

Um balão espião e três óvnis

Em 4 de fevereiro, um balão chinês foi abatido na costa do Estado da Carolina do Sul depois de sobrevoar os Estados Unidos por dias.

Posteriormente, as autoridades americanas o descreveram como um artefato “espião” e disseram que ele havia sido usado para vigilância.

No entanto, a China negou que o objeto fosse usado para espionagem, alegando que era um dispositivo de monitoramento climático que havia desviado de sua rota.

O incidente acirrou as já tensas relações entre Washington e Pequim.

Desde esse primeiro incidente, aviões militares dos EUA derrubaram três outros objetos “de alta altitude”.

Na sexta-feira (10/2), Biden ordenou que um objeto fosse abatido sobre o Alasca. E no sábado, um objeto semelhante foi abatido sobre o Yukon, no noroeste do Canadá. O quarto objeto foi o que caiu próximo ao lago Huron.

Kirby afirmou que é importante deixar claro a diferença entre o balão espião derrubado há duas semanas e os três objetos destruídos neste fim de semana.

O porta-voz afirmou que o governo dos EUA sabe o que o balão estava fazendo, para onde estava indo e enfatizou que ele era muito maior – capaz de carregar três ônibus escolares – e voando muito alto, a 18 mil metros de altura, bem acima da faixa de aviação comercial.

O país ainda não tem detalhes tão precisos sobre os três outros objetos, que estavam voando em uma faixa entre 6 mil e 12 mil metros de altura.

Além disso, o balão chinês estava claramente sendo controlado e manobrado, enquanto os outros três objetos não tinham sistema de propulsão e estavam se movimentando de forma mais imprevisível.

Embora as autoridades de segurança não afirmem publica e categoricamente que os três objetos também sejam balões, o líder democrata no Senado, Chuck Schumer, disse que as autoridades de inteligência acreditavam sim que os dispositivos derrubados na sexta e no sábado eram balões de vigilância.

“Eles acham que eram (balões), sim”, disse ele à emissora ABC News em uma entrevista concedida antes da derrubada do quarto objeto. “O ponto principal é que, até alguns meses atrás, não sabíamos sobre esses balões”.

“Provavelmente seremos capazes de montar este balão de vigilância e saber exatamente o que está acontecendo”, completou.

Sem evidência de alienígenas

Embora sejam associados a naves de procedência extraterrestre no imaginário popular, óvnis consistem em qualquer objeto voador que não possa ser imediatamente identificado ou explicado, o que inclui balões meteorológicos, aeronaves militares, veículos privados ou fenômenos naturais.

Antes do pronunciamento de Kirby nesta segunda, a secretária de Comunicação do governo, Karine Jean-Pierre, afirmou que não há nenhuma indicação de que os objetos tenham origem alienígena.

A secretária de Comunicação provocou risadas entre muitos jornalistas ao dizer que adorava o filme ET – O Extraterreste, mas queria assegurar a população dos EUA que não há indicação de seres vindos de outros planetas para a Terra.

Mapa mostra óvnis derrubados
Mapa mostra óvnis derrubados

Objetos voadores não identificados — linha do tempo

4 de fevereiro: militares dos EUA abatem balão de vigilância suspeito na costa da Carolina do Sul. Ele ficou à deriva por dias sobre os EUA, e as autoridades disseram que ele veio da China e estava monitorando locais sensíveis.

10 de fevereiro: os EUA derrubam outro objeto no norte do Alasca, que as autoridades disseram não ter nenhum sistema de propulsão ou controle

11 de fevereiro: um caça americano abate um “objeto aéreo de alta altitude” sobre o território canadense de Yukon, a cerca de 160 km da fronteira com os Estados Unidos. Foi descrito como cilíndrico e menor que o primeiro balão

12 de fevereiro: jatos dos EUA abatem um quarto objeto de grande altitude perto do Lago Huron “com muita cautela”

Um balão voa no céu sobre Billings, Montana, EUA, em 1º de fevereiro de 2023 nesta foto obtida nas redes sociais.

CRÉDITO,REUTERS: Foto postada nas redes sociais mostra balão sobrevoando Billings, no Estado americano de Montana, em 1º de fevereiro de 2023

Em que consistem os três últimos óvnis?

Os três objetos não identificados derrubados nos últimos dias são muito diferentes em tamanho e forma do balão chinês.

Segundo o governo americano, o primeiro tinha “o tamanho de um carro pequeno” e voava a 40 mil pés (12 mil metros) de altitude. O artefato viajava rumo ao Polo Norte sem nenhum sistema de propulsão ou controle.

Ele foi abatido sobre o Alasca na última sexta-feira (10/2) com “muita cautela”, disseram as autoridades, porque representava uma ameaça para aeronaves civis.

O segundo tinha aspecto “cilíndrico” e foi avistado pela primeira vez sobre o território canadense de Yukon, no noroeste daquele país, na noite de sexta-feira (10/2). Ele foi abatido no sábado (11/2).

Já o terceiro apresentava supostamente forma “octogonal” e foi detectado pela primeira vez na tarde de sábado, ao norte da fronteira dos EUA no Canadá, mas os caças vindos do Estado americano de Oregon não conseguiram continuar a acompanhá-lo quando o sol se pôs.

No dia seguinte, ele foi detectado novamente no Estado de Montana, perseguido pelo estado de Wisconsin e abatido acima do Lago Huron, no Estado de Michigan.

O que o primeiro dos objetos, o balão, estava realmente fazendo?

O balão foi descoberto pela primeira vez em 28 de janeiro no Alasca, depois em Montana e por fim abatido na costa leste em 4 de fevereiro. O Pentágono disse se tratar de um balão espião chinês voando a cerca de 60 mil pés.

Fragmentos do balão caíram em uma extensão de 11 km e afundaram a uma profundidade de 14 metros.

Kirby afirmou que os EUA sabem o que o balão estava fazendo e para onde estava indo, mas que não poderiam divulgar essas informações publicamente por questões de segurança.

Por que usar um balão espião em vez de satélites?

As equipes de resgate coletaram alguns destroços e estão usando barcos e mini-submarinos para encontrar outras partes do que restou do objeto.

Funcionários dos EUA descreveram o balão com alguns detalhes — 60 metros de altura e completo com múltiplas antenas, painéis solares e equipamentos de vigilância — mas não disseram nada sobre que tipo de dados eles acreditam que o artefato estava coletando.

A falta de informação provocou críticas de ambos os principais partidos – o Democrata e o Republicano.

“Tenho preocupações reais sobre por que o governo não está sendo mais direto com tudo o que sabe”, disse o deputado democrata Jim Himes, do Comitê de Inteligência da Câmara, antes do pronunciamento de Kirby.

Embora tenha esclarecido alguns pontos, a fala do porta-voz de segurança da Casa Branca não trouxe esse tipo de detalhe.

Quantos óvnis foram encontrados?

Esses não são os únicos quatro objetos a serem notícia nas últimas semanas.

Um balão foi avistado pela Força Aérea da Colômbia e acredita-se que tenha sobrevoado vários países latino-americanos.

Não se sabe se, de fato, há mais objetos nos ares ou se métodos de detecção mais aprimorados têm permitido observar mais nitidamente os que já existem.

Depois que o primeiro balão foi localizado, o radar operado pelo Comando de Defesa Aeroespacial da América do Norte (Norad, na sigla em inglês) foi aprimorado para detectar objetos menores.

Como disse um funcionário dos EUA à agência de notícias Reuters, “estamos definitivamente olhando tudo com mais atenção agora”.

O aumento de avistamentos precede os casos mais recentes — um relatório de janeiro dos militares dos EUA revelou centenas de novos objetos voadores no espaço aéreo americano.

Houve 366 novos avistamentos registrados em 2022 em comparação com o ano anterior. Desse total, 163 eram balões, 26 eram drones e seis foram descritos como lixo espacial.

Qual é o papel da China nisso tudo?

As relações entre os dois países se deterioraram ainda mais desde que os EUA acusaram a China de usar o balão para espionagem.

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, cancelou uma visita oficial que faria a Pequim.

Os EUA vincularam o balão que derrubaram no Oceano Atlântico a um programa de vigilância global que, segundo o governo americano, vem sendo conduzido pela China, colocando outros países em alerta.

A China assumiu a responsabilidade tanto pelo balão abatido em território americano quanto pelo que foi detectado na América Latina, mas negou que os artefatos tenham sido usados para espionagem, alegando se tratar de dispositivos de monitoramento meteorológico que se perderam.

A destruição do balão nos Estados Unidos “violou seriamente a prática internacional”, disse Pequim, acrescentando que se reservou o direito de “usar os meios necessários para lidar com situações do tipo”.

E acusou os EUA de 10 incursões no espaço aéreo chinês.

“Também não é incomum que os EUA entrem ilegalmente no espaço aéreo de outros países”, disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Wang Wenbin, em uma coletiva de imprensa.

“Desde o ano passado, balões dos EUA voaram ilegalmente sobre a China mais de 10 vezes sem qualquer aprovação das autoridades chinesas.”

Wengbin recomendou que os Estados Unidos fizessem uma “auto-reflexão, em vez de difamar e acusar a China”.

Segundo ele, quando identificou tais incursões em seu espaço aéreo, Pequim respondeu de maneira “responsável e profissional”.

“Se você quiser saber mais sobre os balões de alta altitude dos EUA entrando ilegalmente no espaço aéreo da China, sugiro que consulte o lado dos EUA”, disse.

A imprensa estatal chinesa informou no fim de semana que um óvni foi avistado na costa leste do país, e os militares se preparavam para derrubá-lo.

A Casa Branca negou a acusação de Pequim de que enviou balões para sobrevoar e vigiar a China. No Twitter, a porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, Adrienne Watson, chamou as alegações de “falsas”.

Em entrevista coletiva na noite deste domingo, o comandante da Força Aérea dos EUA disse não ter como explicar totalmente os três objetos mais recentes, como eles permaneceram no ar ou de onde eram.

Um funcionário do alto escalão dos EUA disse à ABC News que essas três aeronaves provavelmente eram dispositivos meteorológicos, e não balões de vigilância.

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